O gigante que ninguém vê 35h3e

Opinião
Guaíra, 14 de novembro de 2022 - 10h53

Por Rafael Codonho e Soraia Hanna

Você já se perguntou o que seria da economia nacional sem o agronegócio? Num país com tantas distorções, está aí o tal do “Brasil que dá certo”, recorrendo ao velho clichê. Nos anos 70, o economista Edmar Bacha escreveu a fábula “O Rei da Belíndia”. No texto, ele sustentava que o país era dividido em dois padrões: Bélgica e Índia. Partindo dessa leitura, não resta dúvida de que o agro responde pela parte europeia. E, em alguns casos, nossos índices chegam a superar as nações daquele continente em produtividade e desenvolvimento.

Na questão social e demográfica, há uma clara transformação em curso. Boa parte dos jovens — que antes protagonizavam o êxodo rural — hoje estão optando por permanecer no campo. Isso porque aram a enxergar ali o que antes não conseguiam ver: oportunidades suficientes para ficar. Introduzem novas técnicas, geram empregos e estimulam um círculo virtuoso de prosperidade e multiplicação de riqueza.

Só que, além de fazer história, é preciso saber contá-la. E aí temos um sério problema de percepção. Enquanto se supera a cada ano em resultado, o agro não vem obtendo o mesmo resultado na batalha diante da opinião pública. Existe um fosso entre a população rural e a urbana — que é inundada pela desinformação bem contada. Segundo essa narrativa, assimilada por muitos como verdade incontestável, a agricultura seria a grande causadora dos efeitos climáticos. Somam-se a isso as mais conspiratórias teorias, sempre unidas pela atribuição da culpa a quem produz.

Um cosmopolita morador de capital não faz ideia do que se a em uma Agrishow ou em uma Expodireto. Da transformação digital que está sendo incorporada às colheitas. Da inovação que é colocada na prática. Do zelo com os animais — pois, se não fosse assim, o próprio ciclo correria risco de continuidade. É um Brasil invisível para quase todos. São empreendedores e trabalhadores muitas vezes mal vistos e negligenciados.

O homem da cidade não tem a verdadeira consciência da importância e da dimensão do agro em sua própria vida, seja na alimentação, seja na sustentabilidade socioeconômica do país. De algum modo, a caricatura de que “o leite vem da caixinha” parece resistir.

Essa desconexão abre espaço para uma série de preconceitos e até campanhas difamatórias bancadas por atores diversos e, muitas vezes, com interesses ocultos. Dessa forma, percepções são constituídas não a partir do o à realidade, mas pelo tweet repleto de críticas de uma celebridade hollywoodiana. Sem o mínimo conhecimento, mas cheia de soluções para salvaguardar o planeta. Ideologias, dogmas, preceitos simplistas e mentiras: tudo se une nessa hora.

Como ensina o ditado: quem cala, consente. Não existe vácuo no processo de formação de opinião. Uma narrativa sempre acaba se impondo, e ainda mais quando o outro lado permanece em silêncio. Assim, erros de alguns são interpretados como práticas comuns, em uma generalização que nivela todo um segmento por baixo. O resultado disso também é perceptível na arena global: o Brasil é uma das nações que mais preserva o meio ambiente e será, em breve, a maior fonte de alimentos do mundo; mas, lá fora, nossa imagem é vendida como de vilões.

E o que explica esse paradoxo? Há um déficit gigantesco de comunicação por parte dos vários protagonistas do agronegócio brasileiro. De governos a empresas, ando pelos líderes e instituições representativas. Como não poderia deixar de ser, essa omissão — o “deixa pra lá!” — gerou um enfraquecimento de sua reputação. Iniciativas esparsas ajudaram, nos últimos anos, a atenuar esse cenário. Mas ainda é pouco. Quase insignificante.

Não basta ser bem-sucedido nos negócios. Não basta ter poder econômico. Não basta trabalhar no dia a dia. Para seguir avançando, o universo rural precisa furar sua bolha e se conectar às massas urbanas. E isso envolve participar — de forma ativa e construtiva — dos grandes debates da humanidade. Sem ficar acuado e tendo como base sua essência. Falta unificar e reforçar o discurso, com estratégia e ação permanente na arena pública, porque reputação é acúmulo que se constrói dia a dia. Para além de fazer, chegou a hora de o agro se fazer perceber. A compreensão da verdade fará o resto

Jornalistas, empresários e sócios-diretores da Critério — Resultado em Opinião Pública


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